Nasci em Lucélia, na Alta Paulista, interior do Estado de São Paulo, em 7 de Setembro de 1943, às 22 horas. (A hora do nascimento está contida na minha Certidão de Nascimento e em um relato elaborado por meu pai sobre os dois primeiros anos de minha vida. Mas não sei se é exata. Minha mãe me dizia 21h45). Sou do signo de Virgem – pelo que consta, com ascendente em Libra. Mas não entendo nada dessas coisas de ascendente.
Fui o primogênito de Oscar Chaves e Edith de Campos Chaves, que haviam se casado quatorze meses antes, no dia 3 de Julho de 1942, em Campinas, SP. Eles vieram a ter mais três filhos: meu irmão Flávio de Campos Chaves (nascido em Campinas, SP, em 20 de Dezembro de 1946), minha irmã Priscila de Campos Chaves (nascida em Santo André, SP, em 2 de Março de 1957), e minha irmã caçula, Eliane de Campos Chaves, hoje Eliane Chaves de Souza (nascida também em Santo André, SP, em 27 de Janeiro de 1959). Os três irmãos sempre moraram em Santo André, onde estão até hoje (com uma breve exceção no caso de minha irmã mais nova, que passou 15 meses em Ushuaia, na Terra do Fogo, na Argentina, de Setembro de 2014 a Dezembro de 2015).
Celebrei neste ano (2015), portanto, 72 anos de vida. Setenta e dois é um número meio cabalístico: seis dúzias ou meia grosa. Passei dos setenta, portanto. O Salmo 90 diz, no versículo 10, que “Os anos de nossa vida chegam a setenta (ou a oitenta para os que têm mais vigor). Entretanto, são anos difíceis e cheios de sofrimento, pois a vida passa depressa, e nós voamos!”. Espero passar dos setenta tão incólume quanto possível e chegar aos oitenta sem muita dificuldade e sofrimento. Que Deus me dê o vigor necessário.
Algumas considerações iniciais breves sobre meu nome, o ano e o local em que nasci, e os meus pais.
Primeiro, sobre o meu nome. Consta que minha mãe queria que eu me chamasse José Carlos: José Carlos de Campos Chaves (JCCC ou J3C). José de Campos era o nome do pai dela, Carlos Gonçalves Chaves o do pai de meu pai. José Carlos seria, portanto, uma homenagem aos dois avôs – um vivo, na época do nascimento (o materno), outro (o paterno) já falecido quando nasci (ele morreu quando meu pai tinha 13 anos, em Abril de 1926). Mas meu pai não aceitou o nome sugerido por minha mãe. Decidiu (a decisão final era sempre dele) que eu me chamaria Eduardo, em homenagem a Eduardo Lane, o missionário americano que conseguiu que ele abandonasse a Igreja Católica, na qual era Congregado Mariano, pela Igreja Presbiteriana. (Esse Eduardo Lane já era missionário de segunda geração, pois era filho do Edward Lane que chegou a Campinas em 1869 como primeiro missionário americano da Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos a colocar os pés no Brasil). Consta que, diante da decisão tomada por meu pai, minha mãe, para não perder a guerra inteira, teria sugerido: “Então que o menino se chame Eduardo Oscar, homenageando também você, já que você não quer homenagear os avôs”. Eduardo Oscar ficou. Nunca ninguém me chamou pelos dois nomes em situações normais. O episódio mostra que meu pai, apesar de autoritário, era flexível – pelo menos quando se tratava de homenagear a si próprio. Exagero: ele permitiu que todos os filhos tivessem o sobrenome materno como sobrenome do meio, se é assim que se refere a ele: “de Campos Chaves”. Isso tornou os nossos nomes maiores e mais pomposos.
Segundo, sobre o ano em que nasci, 1943. Nesse ano o mundo estava em guerra, o Brasil (que então se chamava Estados Unidos do Brazil) era governado pelo ditador tampinha Getúlio Dornelles Vargas, a moeda em uso era o Cruzeiro (Cr$), e a ortografia era outra. Outros também eram os tempos. Um ano antes de eu nascer o Brasil (depois de muita indecisão e alguma flertagem com o nazi-fascismo) declarou guerra à Alemanha nazista e à Itália fascista. Quase um ano depois de eu nascer, e cerca de dois anos depois formalizar a declaração de guerra, o Brasil enviou sua (aqui famosa) Força Expedicionária Brasileira para lutar na Europa ao lado dos Aliados. Ela ficou na Itália. Comandava-a o General João Batista Mascarenhas de Morais. No cinema, filmes com histórias de guerra alcançavam bastante sucesso e faziam a guerra parecer um negócio glamoroso. Em 1943 o que é hoje a Academy of Motion Picture Arts and Sciences premiou “Casablanca” como o melhor filme do ano anterior (1942). Um filme com uma história de guerra, triste, com renúncia e sacrifício, como histórias de guerra costumam ser, mas charmante, linda mesmo, mostrando que, mesmo de quem menos se espera, pode vir um “gesto heroico” (como diria o poeta batista Mário Barreto França). O filme tornou célebre a música As Time Goes By: “You must remember this, a kiss is still a kiss…” Humphrey Bogart e Ingrid Bergman (ela linda como nunca antes nem depois), os protagonistas, já eram famosos quando fizeram o filme.
Terceiro, sobre o lugar em que nasci. Na verdade, quando lá nasci, Lucélia não era ainda um município. Era um “nada” no mundo – uma vila, ou aquilo que se chamava antigamente de um “patrimônio”. Pertencia a Baliza, um distrito (que não existe mais) do município de Martinópolis, que, por sua vez, pertencia à comarca de Presidente Prudente. Minha primeira Certidão de Nascimento, obtida em Lucélia, por meu pai, no dia 11 de Setembro de 1943, diz que eu nasci “na casa paterna, no patrimônio de Lucélia, distrito de Baliza, município de Martinópolis, comarca de Presidente Prudente”. Hoje Lucélia naturalmente é comarca (embora só tenha cerca de 20 mil habitantes). A penúltima cópia da minha Certidão de Nascimento, obtida pessoalmente em Lucélia em 1999, diz que eu nasci na Comarca de Lucélia (o que é verdade, em termos da situação hoje). Mas a cópia mais atualizada da minha Certidão de Nascimento, que obtive em 2014, também diretamente do Cartório de Lucélia, informa que (como era o caso na época) eu nasci no município de Martinópolis. Aparentemente o Supremo Tribunal de Justiça determinou há algum tempo que todos os formulários de Certidão de Nascimento do país já tragam impresso “nascido no município de [lacuna]”. Assim, o Cartório de Lucélia concluiu que não poderia preencher a lacuna com Lucélia, que na época não era município. Firulas de tecnoburocratas fundamentalistas. Para mim, continuo nascido em Lucélia, ponto final.
Quarto, sobre meus pais.
Quando nasci, meu pai, Oscar Chaves, era ministro (pastor) Presbiteriano, vinculado à Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB). Na verdade, ele havia sido ordenado pastor apenas cerca de sete meses antes, no dia 31 de Janeiro de 1943, em São Paulo. Mineiro do Triângulo (Patrocínio, MG), nascido em 11 de Outubro de 1912 em família católica, meu pai sempre foi pessoa tradicional e conservadora. Quando mal tinha vinte anos (em 1932), converteu-se ao presbiterianismo pela mão do Rev. Eduardo Lane, missionário americano, em cuja honra recebi meu primeiro nome (como já mencionado). O principal legado de meu pai, no que me diz respeito, foi uma personalidade argumentativa, de vez em quando um tanto “crica”, quase briguenta, e uma preocupação constante com a aferição de minhas competências e especialmente com a justificação de minhas convicções, meus valores, minhas atitudes, minhas posturas, e, evidentemente, minhas ações.
Depois de ordenado, meu pai, que pertencia ao Presbitério de São Paulo, foi cedido pelo presbitério à recém-criada Junta de Missões Nacionais, responsável pelo trabalho missionário doméstico da Igreja Presbiteriana do Brasil. Isso explica o fato de que, por dez anos, fez o trabalho de desbravador, implantando igrejas presbiterianas onde não havia nenhuma: Paracatu, MG, Lucélia, SP, Irati, PR, Marialva, PR, e Maringá, PR. Essas cidades foram, em sequência, a sede de sua área de atuação (chamada de “campo” na igreja). O campo de um pastor missionário era amplo – o que significava que ele precisava viajar bastante e raramente ficava “estacionado” na cidade sede do campo. No Norte do Paraná meu pai andava léguas e léguas a cavalo, indo para lá de Paranavaí e Campo Mourão.
Minha mãe, Edith de Campos Chaves, era de família presbiteriana de Campinas, SP. Quando se casou com meu pai em 1942, tinha 17 anos (nasceu em 7 de Agosto de 1924) – ele 29 (fariam 18 e 30 ainda naquele ano). Meu pai desmanchou um longo noivado para se casar com minha mãe. Enfrentou vários problemas por causa disso, tanto na igreja como com os amigos, especialmente porque a noiva que ele preteriu já despontava como um ícone heroico do protestantismo: Loide Bonfim (depois Bonfim Andrade), que ficou famosa como missionária evangélica e educadora entre os índios Caiuás (hoje o pessoal “esquerda caviar” prefere grafar cayowa). Desde 1938 ela era professora junto a Missão Evangélica Caiuá, no Mato Grosso (hoje do Sul). Depois do casamento do meu pai, perdidas as esperanças, ela se casou com um amigo e colega de classe de meu pai, Orlando Andrade. Sempre admirei a coragem de meu pai em romper um noivado socialmente muito bem-visto pelo amor de minha mãe, que era um pouco mais do que uma menina, ex-balconista das Lojas Americanas, apenas com o Ginásio Comercial concluído (na Academia de Comércio São Luiz). Admirei, também, a coragem de minha mãe, novinha como era, de se meter pelo sertão do Brasil com um homem bem mais velho (naquele tempo, uma diferença de idade de doze anos fazia uma diferença razoável – por mais pleonástica que soe a afirmação).
Como mencionei atrás, a primeira cidade em que meus pais viveram como casados foi Paracatu, MG. Meu pai foi para lá como Licenciado, no início de 1942, ainda solteiro, voltando no final de Junho para se casar. Efetuado o casamento, retornou para lá com minha mãe, sem lua de mel. Apesar de, em 1840, quando Paracatu se tornou comarca, Uberlândia pertencer a ela, em 1942, cerca de cem anos depois, Uberlândia havia crescido bastante e Paracatu era literalmente nada – além de uma cidade católica e preconceituosa. Ouvi de meus pais que foram hostilizados. Porque as ruas eram calçadas com pedras muito irregulares, os não acostumados tinham dificuldade para andar, muitas vezes escorregando e caindo. Segundo minha mãe, soltaram boatos na cidade que o pastor protestante enviado para lá bebia tanto que mal conseguia andar pelas ruas da cidade… Minha mãe precisou ter muito amor pelo meu pai e muita coragem para se aventurar por lá, um ambiente hostil – e, depois, pelos outros lugares que meu pai desbravou para o presbiterianismo brasileiro.
Uma pequena historieta. Quando eu morava em Santo André, e tinha uns 12 anos, por aí, meu pai me levou a um evento em São Paulo em que a Profa. Loide Bonfim Andrade iria falar. (Falava muito bem, ela.) Lá me apresentou à sua ex-noiva. Eu, sabedor da história do noivado, estava meio sem jeito. Mas ela foi despachada. Abraçou-me, acariciou-me o rosto, e disse ao meu pai: “Ah, então é esse o filho que quase foi meu?” – e deu risada… A good sport. Fiquei gostando dela a partir daquela momento. Quase foi minha mãe…
Voltando alguns anos, em 24 de Fevereiro de 1943 meus pais se mudaram de Paracatu, MG, para Lucélia, SP, onde nasci. Se Lucélia não é grande coisa hoje, em 1943 não era nada. Na verdade, como já disse, não era nem sequer município, algo que se tornou apenas no ano seguinte. Tinha, pelo que consta, basicamente três ruas: uma avenida principal, chamada Avenida Internacional, a rua “de cima”, que dava na estação do trem (Companhia Paulista de Estrada de Ferro), e a rua “de baixo”, na direção da estrada rodoviária, chamada Amazonas, em que eu nasci num bangalô minúsculo, de madeira.
Literalmente não conheci Lucélia. Saí de lá quando tinha um ano e pouco e só voltei lá em 1999, cinquenta e cinco anos depois. Foi nessa ocasião que obtive a segunda via de minha Certidão de Nascimento mencionada atrás. Eu fui convidado a dar uma palestra em uma faculdade de Dracena, SP (onde meu pai também implantou a Igreja Presbiteriana em 1943), numa segunda-feira, e em Bauru, SP, no dia seguinte, terça. Dracena fica bem além de Lucélia, já perto do rio Paraná, na divisa com Mato Grosso do Sul, e Bauru fica antes. Resolvi sair de Campinas (onde morava) com meu Escort branco 1992 no domingo, dirigir até Lucélia, ficar lá a noite de domingo e a maior parte da segunda-feira, e ir para Dracena só à tarde na segunda. Fiquei surpreso com o tamanho da cidade, que aparentemente não havia crescido nada, tendo sido “espremida” pela vizinha Adamantina. Não consegui sequer encontrar um hotel decente na cidade. Só havia umas pensões fajutas. Tive de ir dormir em Adamantina — onde o hotel, também, é bom que se diga, não era lá essas coisas.
Andando por Lucélia (de carro e a pé), fui até a Estação Ferroviária, que estava abandonada. Havia mato nos trilhos e sujeira na plataforma. As janelas estavam seladas com tábuas. Vagabundos vagavam por lá. Fotografei tudo com minha câmera Sony Mavica, que usava um disquete de 3,5″ para armazenar as fotos: máximo 20 fotos por disquete. Na frente da estação do trem havia a Praça da Imigração Japonesa, da qual um senhor de idade era o único a desfrutar. Puxei conversa. Perguntei a ele se sabia onde era a rua Amazonas, porque no dia anterior (o domingo) não a havia encontrado. Ele me disse que a rua que um dia teve esse nome agora tinha outro nome – que ele me disse (Rua Dorival Rodrigues de Barros, confirmo agora no Google Maps). Encontrei a rua. Dirigindo por ela, encontrei o salãozinho de madeira em que meu pai deu início ao trabalho presbiteriano lá. Hoje congrega no lugar uma Igreja do Evangelho Quadrangular. Sinal dos tempos. Liguei para minha mãe, então ainda viva, e lhe perguntei se, ao sair do salão de cultos, ela virava à direita ou à esquerda para ir para casa. Ela disse sem hesitar que era à direita – e me deu a informação preciosa de que nossa casa (casinha) ficava atrás do cinema da cidade. Peguei o carro e segui na direção indicada por mais uns quarteirões quando avistei, na rua à esquerda (a principal – Avenida Internacional), um prédio com cara (cara, bem, não – a cara dava pra outra rua…) de cinema. Firmei a atenção e fui recompensado localizando o bangalozinho em que nasci. Era ainda menor do que parecia numa foto em que minha mãe me carregava todo enrolado na frente do alpendre da casa, quando eu nem ainda tinha um mês de idade. Tirei umas fotos com minha Mavica e fui em frente com medo do ocupante da casa sair e me perguntar por que eu estava a fotografar a casa dele…
Quando eu tinha mais ou menos um ano e nove meses de idade, em Junho de 1945, meus pais se mudaram para Irati, PR, onde, segundo meu pai, no já mencionado relato que fez de minha vida até os dois anos, eu quase morri. Eis o que ele escreveu:
“O Oscarzinho hoje está fazendo 2 anos! Aleluia! Faz um ano que não escrevo nada sobre ele. Quanto progresso nesse tempo! Hoje ele é um ‘homenzinho’! Já fala tudo e entende tudo! Fala quasi tudo com perfeição. – Estamos no Paraná, em Irati. – O Oscarzinho estranhou o clima, no começo, e adoeceu aqui, com um forte resfriado. O ouvido ficou inflamado. Sofremos muito. Quasi perdemos o garoto. Mas Deus o salvou.”
Foi a primeira vez, mas não a última, em que Deus me salvou… Consigo me lembrar de várias.
Enfim: meus pais não gostaram da cidade, nem do povo, nem muito menos do clima. Ficaram lá apenas nove meses, saindo em Março de 1946 para o Norte do Paraná. (Hoje, e já faz algum tempo, desde que se casou com a Rosi, meu amigo e ex-professor João Wilson Faustini mora em Irati.)
O Norte do Paraná era, naquela época, uma região sem dono, parecida com o Oeste Americano no século 18 e 19. Lá meus pais estacionaram sua charrete, em Março de 1946, na cidade de Marialva, para onde se mudaram, passando três anos na cidade. Em Janeiro ou Fevereiro de 1949, mudaram-se para Maringá, PR (que havia sido fundada em 1947), ficando lá também três anos. Sairam de lá em Fevereiro de 1952 para vir para Santo André, SP – onde os dois ficaram até morrer, ele em 5 de Março de 1991, com 78 anos e meio, e ela em 11 de Junho de 2008, com quase 84 anos.
Quando cheguei a Santo André, em Março de 1952, já tinha oito anos e meio, nunca havia frequentado escola, e o ano letivo já havia começado há quase um mês. A razão pela qual meus pais não me colocaram na escola na época dita certa, em Maringá, PR (cidade da Sônia Braga), foi que meu pai (como já disse, com ele não havia dúvida sobre quem mandava em casa) não confiava na rede escolar da nascente cidade e concluiu que eu aprenderia mais e melhor em casa. Como se vê, tive um defensor de home schooling na minha vida, desde que era criança… Quem sabe isso não influenciou alguns de meus pontos de vista educacionais cinquenta e tantos anos depois…
De qualquer maneira, levado à escola, em Santo André, o Grupo Escolar “Prof. José Augusto de Azevedo Antunes”, na Rua Senador Flaquer, construído em 1912, ano em que meu pai nasceu, esta não me deu nenhum crédito pelo fato de que eu já sabia ler e escrever bem (tendo aprendido com meus pais, usando a Bíblia e os livros de Sherlock Holmes como cartilha), tinha uma letra muito bonita, fazia contas sem maiores problemas, e estava muito bem informado na área de conhecimentos gerais. Mesmo assim tive de começar no primeiro ano do Curso Primário, onde se aprendia a ler na Cartilha Sodré, cuja primeira lição era: “A pata nada, pata pa, nada na”. Felizmente, logo ascendi para a “Seção A” da classe, a dos mais adiantados.
Minha primeira professora foi Dona Maria José Ferraz de Alvarenga, Dona Zezé. Era magrinha, quase raquítica, feia de dar dó, não sorria muito, mas todos gostavam dela – e ela gostou de mim. No segundo ano a professora foi Dona Judith Ramos Milanezzi, uma santa que adorava todo mundo, até os alunos insuportavelmente mal comportados. Como eu era bem comportado e, ainda por cima, o melhor aluno da classe, ela também gostou de mim. Ela tinha uns óculos de lentes grossíssimas e, depois que deu aulas para mim, teve um nenê, uma menininha, que com dois ou três anos já usava óculos. No terceiro ano tive minha professora mais chata do Primário: Dona Eulídia Borges Duarte. Ela creio que não gostava muito de ninguém – a fortiori, nem de mim. Finalmente, no quarto ano, tive a professora de que gostei mais no Primário (e, tenho a impressão, a que mais gostou de mim durante toda essa fase de escolaridade): Dona Mercedes da Silveira Lopes. Ela já era meio coroa (ou, pelo menos assim me parecia então) quando deu aula para mim – mas era solteira. Casou-se logo depois de eu ter passado pela classe dela, e assumiu o nome de Mercedes Lopes Ferraz. Foi ela que percebeu que eu precisava usar óculos e foi ela que me levou para fazer uns testes de inteligência e, depois, anunciou para Deus e todo mundo que eu, apesar dos meus tenros 11 aninhos, tinha uma idade mental de 19. Sei lá. Nunca confiei muito nesses testes.
Terminei o Curso Primário em 1955, dois anos depois do Quarto Centenário de Santo André e um ano depois do Quarto Centenário de São Paulo (muito mais celebrado).
No segundo semestre de 1955, fiz três meses de Curso de Admissão ao Ginásio com uma professora particular, uma moça nova (acho que tinha 19 anos), descendente de italianos, chamada Carla Strambio. Eu a achava lindinha na época.
No final do ano de 1955 prestei o Exame de Admissão do “Colégio Estadual e Escola Normal ‘Dr. Américo Brasiliense'” (depois chamado, enquanto eu ainda estudava lá, de “Instituto de Educação ‘Dr. Américo Brasiliense'”), na Praça do Quarto Centenário, em Santo André, considerado de longe a melhor escola da cidade. Passei em décimo terceiro lugar, dentre 330 alunos. Havia apenas 30 vagas na primeira série do Ginásio do Colégio Estadual de Santo André naquele ano de 1956: onze candidatos por vaga!
De 1956 a 1959 fiz o Ginásio no Américo Brasiliense. Na primeira série, tive uma grande decepção acadêmica. Eu havia sido o primeiro aluno da classe em todo o Primário – e esperava continuar sendo no Ginásio. Minha média final foi boa, 9,01. Mas um nissei chamado Roberto Yamamoto teve a média mais alta: 9,36. A minha foi a segunda. Mas por vários dias fiquei arrasado por não ter tirado o primeiro lugar. O impacto foi grande: nunca me esqueci dessa derrota…
Na segunda e terceira série do Ginásio voltei a tirar a média mais alta da classe – mas ela depencou da casa dos 9 para a casa dos “upper” 8.
No final de 1958, decidi que devia trabalhar e que, portanto, queria me transferir para o Curso Noturno. Arrumei trabalho como escriturário no Banco Indústria e Comércio de Santa Catarina S/A, o INCO (que depois foi comprado pelo BRADESCO, se não me engano), para começar no dia 2 de Janeiro de 1959. Gostei muito de trabalhar no banco, onde fui contratado como menor – tendo o salário correspondente a metade de um salário mínimo regular (por ser menor). Ganhar metade do salário que já deveria ser mínimo era duro. O horário de trabalho previsto era das 12 às 18h.
O trabalho no banco, porém, apesar de me deixar livre a manhã, interferiu com o meu desempenho escolar – especialmente porque me obrigava a chegar atrasado e a faltar muito. No banco era necessário “fechar o balancete” diariamente, levando em conta o dinheiro existente na agência no dia anterior, somando os depósitos, pagamentos recebidos, e outras entradas, e diminuindo os cheques, os pagamentos feitos, e outras saídas. O balancete tinha de “bater”, internamente, e o saldo contábil tinha de “bater” com o dinheiro no cofre e no caixa. E muitas vezes não “batia”. E quando não “batia”, tínhamos de procurar a maldita diferença (que, em alguns casos, era mais de uma). Isso podia levar horas. Houve noites em ficávamos na agência até cerca de 23h e tínhamos de voltar de manhã, no dia seguinte. Com isso, o desempenho escolar foi para o brejo.
Entrei nos exames finais precisando de nota em todas as matérias. Feitos os exames escritos, fui muito mal em Matemática, História do Brasil e História Geral. Em Matemática precisaria tirar 9 no exame moral para passar direto (sem “Segunda Época”). Em História, precisava de cerca de 1,5 em História do Brasil e 1,0 em História Geral.
O professor de História era o Pedro Cia, jovem de 19 anos, que ainda fazia o curso de História na Universidade de São Paulo. Dada a proximidade na idade, era muito amigo nosso. Tanto que foi escolhido para ser nosso Paraninfo na Formatura. Fui a ele e abri o jogo. Disse-lhe que precisava tirar 9,0 em Matemática e cerca de 2,0 em cada uma das Histórias. Será que eu poderia concentrar meus estudos em Matemática e esquecer as Histórias? Tranquilo, disse ele: dou-lhe 2,0 em cada uma apenas por comparecer. Concentrei-me na preparação do exame oral de Matemática, que vinha antes. No dia, tirei 10,0. Além de ter estudado, tive muita sorte no sorteio do ponto. Faltavam apenas os dois exames de História, que estavam garantidos. Daí a Lei de Murphy entrou em cena: o que pode dar errado, cedo ou tarde, dá. . . O Pedro Cia ficou doente, não pode comparecer ao exame, e veio um professor de outra escola fazer o exame oral. E eu não sabia literalmente nada. Tirei zero nos dois exames. Nunca havia tirado zero em minha vida toda. Fiquei desesperado. No dia seguinte procurei contatar o Pedro Cia por telefone. Consegui. Ele me acalmou, dizendo para ficar tranquilo que tudo daria certo. Ele, ao receber as notas do professor substituto, tinha de transcreve-las no formulário oficial. Deu-me notas bem acima do mínimo necessário. Além de cumprir sua palavra, foi extremamente generoso comigo.
Naquela época, nenhum aluno podia ter média menor do que 4,0 em cada matéria ao final do ano, e a média geral de todas as matérias tinha de ser no mínimo 5,0. A minha, na quarta série do Ginásio, foi 5,46. A pior média que já tive na vida. Mas fui aprovado, e, na Cerimônia de Formatura, recebi o diploma das mãos do Pedro Cia. Tenho a foto ainda. A cerimônia foi no antigo Cine Tangará, em Santo André, no início da rua Coronel Oliveira Lima, já chegando na linha do trem.
(Num parêntese, o Pedro Cia no devido tempo se casou com minha professora de Desenho, Dona Elza, e ambos construíram um verdadeiro império escolar no ABC, a Rede de Escolas Arbos, com sede em Santo André. Nunca vou me esquecer do gesto dele. Nos trinta e cinco anos em que fui professor, nunca regateei nota, sempre dando oportunidades aos alunos de fazer mais alguma coisa para obter a nota mínima exigida. Nunca esqueci que minha carreira acadêmica poderia ter terminado ali, na quarta série Ginasial, se eu não tivesse sido aprovado por ele.)
Antes de prosseguir, preciso fazer referência a dois outros professores importantes no Ginásio e a um incidente.
Um dos outros dois professores importantes foi Dona Zilda Olga de Lorenzi, minha professora de Música e regente de Canto Orfeônico. Sempre gostei de música, mas ali, nas aulas da Dona Zilda, eu desenvolvi o gosto pelo canto coral – que, felizmente, nunca perdi. Ela era pessoa finíssima. O outro professor foi Cléstenes Borges dos Reis, meu professor de Inglês da segunda à quarta série (o Inglês só começava na segunda série – enquanto o Francês e o Latim começavam na primeira!). Além de excelente professor, com uma pronúncia que me parecia maravilhosa, o Prof. Cléstenes era muito divertido e gozador. E era muito amigo dos alunos também, apesar de terrivelmente “sarrista”.
O incidente foi o seguinte… Quando estava na terceira série, tive o infortúnio de ficar numa classe ao lado da Inspetoria de Alunos. Um dia, no intervalo, vi um toquinho de giz no chão e resolvi dar-lhe um chute. Acontece que o meu sapato (daqueles de sola de pneu, sem cordão, com elástico no topo) saiu do pé, voou em direção à janela, quebrou o vidro, e acabou lá embaixo (a sala era no segundo andar). Imediatamente a Inspetora de Alunos veio até a classe. Eu disse a ela o que havia acontecido, sem esconder nada. Ela me comunicou que precisava me levar até a Diretoria. Disse a ela que precisava descer primeiro, para pegar meu sapato. Ela deixou que eu o fizesse. Na volta, fomos até a Diretoria, onde o Diretor (que se chamava não sei o que de Marco ou de Falco), um senhor baixinho, gordo e careca (deixem-me descontar nele aqui), estava ocupado falando com uma outra funcionária. Esperamos. Finalmente ele atendeu a Inspetora e perguntou o que havia acontecido. Ela relatou o que eu havia lhe contado. Ele não pensou nem um segundo. Nem se dignou a ouvir-me. Disse-me, literalmente o seguinte: “O senhor está suspenso por três dias para aprender que giz não é bola de futebol”. Mandou anotar em minha caderneta a suspensão (que mancha em meu histórico escolar!) e trazer a notificação assinada por meu pai no dia seguinte. Naquela época, o aluno que era suspenso tinha de vir às aulas, mas ficava com falta. Quando era chamado, tinha de se levantar e dizer: “Estou suspenso, professor(a)”.
Dois problemas.
O primeiro, falar com meu pai. Eu sempre tinha sido bom aluno, não só com boas notas, mas disciplinado, bem comportado. Nunca meus pais precisaram comparecer à escola para ouvir reclamação a meu respeito. E, agora, a suspensão. Levei um século para chegar em casa. Normalmente levava uns 40 minutos, andando. Devo ter levado umas duas horas para chegar, e usei o tempo ensaiando a história que iria que contar. Na hora de enfrentar meu pai, optei por dizer a verdade, com medo de que, se dissesse uma mentira, iria me enrolar e poderia vir a ser apanhado na mentira, piorando seriamente a minha situação. Para minha surpresa, meu pai se solidarizou comigo, ficou revoltado com o Diretor, e queria até ir à escola reclamar – o que eu implorei para que ele não fizesse – seria o mico dos micos. Finalmente, ele resolveu deixar as coisas do jeito que estavam, e assinou a caderneta.
O segundo problema foi responder que eu estava suspenso quando da chamada. Todos os professores ficavam surpresos e alguns até me expressaram discreta solidariedade. Mas era constrangedor ter de contar a história para cada um deles, diante de meus colegas. Muitos desses colegas eram maus alunos e estavam felicíssimos que eu, o melhor aluno da classe, estivesse naquela situação constrangedora. O único professor que deu risada – na verdade, gargalhadas – foi o Prof. Cléstenes Borges dos Reis… Achou divertidíssimo o episódio e tirou o maior sarro de mim.
Eu me senti extremamente injustiçado no episódio. E sempre fui bastante tolerante dos “malfeitos” de meus alunos na minha vida de professor, porque sempre me lembrava do maldito giz no chão da sala…
Concluído o Ginásio, eu tinha a opção de fazer Curso Colegial (hoje Ensino Médio) em uma de duas opções então existentes: o Científico ou o Clássico – ou então fazer o Curso Normal (que formava Professores Primários) e que era equivalente, em termos da possibilidade de acesso ao Ensino Superior, ao Curso Colegial (mas era considerado um curso “para mulheres”…). Tentei fazer o Científico à noite em 1960 no Américo Brasiliense, enquanto trabalhava na Companhia Swift do Brasil o dia inteiro, mas detestei o curso e desisti no meio do ano. Nunca mais estudei Física e Química. Desperdicei o ano inteiro, academicamente falando.
Ao longo do segundo semestre amadureci a ideia de estudar para o ministério (pastorado) e resolvi fazer o Colegial Clássico no Instituto “José Manuel da Conceição” (JMC), em Jandira, SP, uma escola-internato pertencente à Igreja Presbiteriana do Brasil, que foi fechada pela igreja no final de 1969. A Igreja Presbiteriana de Santo André, da qual meu pai era pastor, me acolheu como pré-candidato ao ministério, assumindo o custo de meus estudos. Fui para Jandira em Fevereiro de 1961 (para me ajudar a levar as malas) e fiquei lá, interno, até Dezembro de 1963. Foram anos excelentes em termos de aprendizagem acadêmica e de desenvolvimento “vivencial”. Minha experiência lá está relatada em vários posts no blog “Instituto José Manuel da Conceição” (http://jmc.org.br).
Como disse, a igreja fechou o JMC no final de 1969. Coisas estranhas aconteceram, nunca esclarecidas até hoje. O mais estranho foi que uma empresa vinculada à Engesa, fabricante de material bélico, foi instalada no que havia sido propriedade do colégio – vale dizer, da igreja. Os demais prédios foram desapropriados pela Prefeitura Municipal de Jandira. Consta que várias áreas vazias foram transformadas em loteamento de condomínio particular. Tudo muito esquisito e malcheiroso. Mas deixemos isso de lado aqui.
Naquela época, a maior parte dos alunos do sexo masculino que estudavam no Instituto JMC tinha a intenção de seguir para um Seminário Teológico e se dedicar ao ministério evangélico. Eu não era exceção. Influenciado, em parte, pela história de meu pai (que também havia estudado no Instituto JMC, na década de 30, de 1934 a 1938), matriculei-me, em 1964, no Seminário Presbiteriano do Sul (SPS), também conhecido como Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana do Brasil, em Campinas, SP (onde meu pai também já havia estudado, de 1939 a 1941). Minha festa de calouro estava agendada para o fatídico 1º de Abril de 1964. É desnecessário acrescentar que (como muita coisa mais) a festa foi abortada pelo Golpe Militar do dia anterior, 31 de Março…
Com uma ou duas exceções, o corpo docente do Seminário era muito conservador, tanto teológica quanto politicamente, e entre os alunos havia alguns (admitidamente, uma minoria) que chegavam a ser extremamente reacionários (novamente, tanto no plano teológico quanto no político). Sendo essa a situação, tive o que hoje, em retrospectiva, considero a sorte de ser expulso do Seminário em 1966, quando estava no meu terceiro ano, em virtude de basicamente duas razões:
- por defender teorias não muito aceitáveis acerca da religião e doutrinas não muito ortodoxas na teologia cristã (especialmente, no caso da religião, em geral, as de David Hume, e, no caso da teologia cristã, as de Rudolf Bultmann); e
- por publicar, no recém-criado jornalzinho do Centro Acadêmico, do qual eu era editor, e que tinha o provocante nome de “O CAOS em Revista” (visto que o nome do Centro Acadêmico era “Oito de Setembro”, data da fundação do Seminário), uma crítica violenta aos professores do Seminário por sua omissão na crítica a ideias fundamentalistas, e, depois, uma defesa apaixonada, baseada no livro On Liberty, de John Stuart Mill, do direito à liberdade de pensamento e de expressão.
Tudo o que eu escrevi nesse jornal, a propósito da segunda dessas duas razões, pode ser encontrado nos seguintes artigos:
- Editorial (Março 1966)
- Artigo: “Instituto Bíblico em Campinas” (Março 1966)
- Editorial: “Ainda Jonas” (Abril 1966)
- Editorial (Maio 1966)
- Artigo: “Parafraseando” (Maio 1966)
- Editorial (Junho 1966) [Censurado]
- Editorial (Agosto 1966) [Censurado]
Esses editoriais e artigos todos estão republicados aqui neste meu blog “Autobio Space” (http://autobio.space) no post “O CAOS em Revista: Editoriais e Artigos de 3/1966 a 8/1966 (alguns censurados)”, no seguinte endereço:
https://autobiospace.wordpress.com/2015/11/07/o-caos-em-revista-editoriais-e-artigos-de-1831966-a-1881966-alguns-censurados/.
O material publicado está contextualizado e discutido no artigo “40 Anos depois do CAOS (1966-2006)”, disponível no seguinte endereço, aqui neste blog:
https://autobiospace.wordpress.com/2015/11/07/quarenta-anos-depois-do-caos-1966-2006/ .
Na época, as cinco primeiras peças chegaram a ser publicadas mas as edições foram imediatamente confiscadas pela Reitoria; no caso das outras duas, a Congregação do Seminário havia instituído a censura prévia e as peças foram cortadas antes de serem publicadas. Na verdade, o jornal inteiro de Junho de 1966 foi censurado e o de Agosto nem saiu. Minha carreira de jornalista foi, portanto, abruptamente interrompida sem que sequer uma das peças que escrevi tivesse sido normalmente distribuída.
Minha ousadia quase me custou o fim temporário, se não de minha liberdade, pelo menos de meus estudos. O ano de 1966 me parecia, na época, ser o auge da Ditadura Militar brasileira e do autoritarismo eclesiástico e retrocesso teológico da Igreja Presbiteriana do Brasil, mas eu estava, naturalmente, duplamente errado: tanto no país quanto na igreja a situação se tornou ainda muito pior antes do final da década, mas nesse momento eu já estava fora, tanto da igreja como do país.
Depois de ter sido expulso do Seminário Presbiteriano de Campinas fui trabalhar. Arrumei um emprego, como Analista de Custo, na primeira empresa em que fiz teste, a Roberto Bosch do Brasil S/A, em Campinas, SP, na saída para Hortolândia, pertinho da Fazenda Boa Vista, onde minha mãe nasceu. Trabalhei ali durante por um pouco mais de seis meses.
Enquanto trabalhava na Bosch, fui acolhido pela Igreja Presbiteriana do Jardim das Oliveiras, em São Paulo, pastoreada pelo Rev. José Borges dos Santos Júnior, que havia feito o casamento dos meus pais, e que, em 1966, estava na oposição da Igreja Presbiteriana do Brasil. Ele me prometeu apoio financeiro da igreja caso eu conseguisse ingressar em algum outro seminário para continuar meus estudos.
Por recomendação de meu amigo Waldir Berndt, cujo irmão, Aldo Berndt, estudava lá, contatei a Faculdade de Teologia da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (Evangelische Kirche Lutherischen Bekenntnisses in Brasilien), de São Leopoldo, RS. Expus o meu problema, indaguei acerca dos custos, e fui muito bem recebido. A igreja do Jardim das Oliveiras me prometeu ajudar e eu fui parar no Morro do Espelho (Spiegelberg) em São Leopoldo, no início de 1967…
Lá, em 1967, eu entrei no meu quarto anos de estudos pós-secundários (embora sem concluir o curso teológico). Em São Leopoldo, Rudolf Bultmann, que era Luterano e que era considerado o principal teólogo herético pelos presbiterianos) era bem aceito. O tempo que passei lá ajudou bastante no desenvolvimento do meu domínio da língua alemã (que eu estudava desde o primeiro ano no Seminário de Campinas), porque todas as aulas eram ainda em alemão, naquela época. (O Waldir Berndt foi meu primeiro professor de Alemão. Depois, durante um ano e meio, meu professor foi Ernst Manuel Zink, do Instituto Hans Staden / Goethe Institut).
O ambiente intelectual fornecido pelo Seminário Luterano era bastante estimulador. A despeito disso, ou, mais provavelmente, por causa disso, meus laços pessoais com a igreja começaram a enfraquecer bastante, mais ou menos durante o período em que eu estive em São Leopoldo. Meu interesse pela religião como fenômeno social e pela teologia como disciplina intelectual continuaram, entretanto, nunca deixando de existir. Nisso eu, em certo sentido e até certo ponto, modestamente espelhei o que se passou com David Hume, sobre quem eventualmente vim a escrever minha tese de doutoramento: ele deixou a igreja (também Presbiteriana, na Escócia) sem traumas, tanto por razões eclesiásticas como teológicas, depois de uma série de perseguições, mas sempre manteve um interesse pela religião como fenômeno social e pela teologia como disciplina intelectual.
Apesar dos meus laços com a igreja haverem enfraquecido, enquanto em São Leopoldo tive a sorte de receber uma bolsa completa, de três anos, para fazer o Mestrado em Teologia no Pittsburgh Theological Seminary (PTS), de Pittsburgh, PA, EUA. Para poder usufruir a bolsa solicitei uma bolsa de viagem ao National Council of the Churches of Christ in the United States (NCCCUS), e tive a felicidade de vê-la concedida. A bolsa no PTS foi obtida através dos esforços do Prof. Dr. Rev. Gordon Eugene Jackson, então Deão Acadêmico daquela escola, e desde então um querido amigo e uma fonte constante de inspiração. Espero que ainda esteja vivo e bem, pois perdi contato com ele há algum tempo.
O Rev. Jackson ainda conseguiu outra proeza. Embora eu tivesse menos de quatro anos de estudos em nível superior e não tivesse um diploma de curso superior, ele, com base na minha escolaridade até a data (1967) pleiteou e obteve, junto ao Conselho de Educação do Estado da Pensilvânia, que meus estudos realizados no Brasil fossem considerados equivalentes a um curso superior americano, para fins de eu continuar meus estudos no seminário em nível de Pós-Graduação. O Conselho concordou e eu fui aceito no programa de Mestrado do Seminário (Master of Divinity, M.Div.). Com base no parecer do Conselho Estadual da Educação da Pensilvânia, recebi um diploma de Bacharel em Teologia (Bachelor of Divinity, BD) do PTS.
A bolsa do NCCCUS para a viagem aos Estados Unidos foi obtida através dos esforços do Rev. Dr. Aharon Sapsezian, então Secretário Executivo da Associação dos Seminários Teológicos Evangélicos (ASTE), e, posteriormente, outro amigo muito caro. Aharon viveu em Genebra, Suíça, a terra adotada por João Calvino, por muitos anos, e morreu lá, recentemente. Foi uma grande perda. Ele não só me sugeriu que solicitasse a bolsa ao NCCCUS, mas envidou os maiores esforços para que ela fosse concedida.
Expresso publicamente aqui minha gratidão a esses dois grandes amigos. (Tivemos, a Paloma [vide adiante] e eu, o privilégio de participar recentemente, aqui em São Paulo, da celebração das Bodas de Ouro do Aharon e da Zabel, sua mulher. Foi uma experiência emocionante, que vivemos ao lado do Rubem Alves e da Thaís, sua mulher, também amigos do Aharon e da Zabel — o Rubem há um pouco mais de tempo do que eu. Em 2012 ele veio a falecer, vítima de problemas cardíacos. Tinha quase 86 anos. No ano passado, o Rubem também faleceu, em Julho, com quase 81 anos.
Enquanto no PTS, de meados de 1967 até meados de 1970, obtive meu Mestrado em Teologia, na área da História do Pensamento Cristão (conclusão: Maio de 1970). Lá tive o privilégio de estudar com estrelas intelectuais como Dietrich Ritschl (neto do grande teólogo liberal alemão do século XIX, Albrecht Ritschl, e ele próprio um grande especialista na história do pensamento europeu moderno), que me fez interessado para sempre na história intelectual; Ford Lewis Battles (especialista em pensamento medieval, na Renascença e na Reforma, especialmente em Calvino, sendo o autor da melhor tradução para o Inglês da Institutio Christianae Religionis), que quase me convenceu a tornar-me um historiador medieval; Markus Barth (filho do grande teólogo suíço do século XX, Karl Barth), cujas aulas eram tão precisas que a gente o tomaria por alemão, e tão claras, que a gente o tomaria por francês; Hans Eberhard von Waldow (que havia ensinado em São Leopoldo antes de ir para Pittsburgh), que, por incrível que pareça, conseguia fazer a História do Antigo Israel parecer viva e interessante; George H. Kehm (professor de teologia sistemática), que me fez seu assistente didático e de pesquisa quando entrei no doutorado; e vários outros (Ronald Stone, Walter Wiest, John Gerstner, Robert Paul, John Bald, Douglas Hare). Minha média durante o mestrado foi suficientemente boa para que eu recebesse sete prêmios e bolsas ao final dos meus três anos no PTS, uma das quais era para cursar o doutorado em área de minha escolha.
Assim, em Setembro de 1970 entrei na University of Pittsburgh (Pitt), também em Pittsburgh, PA, EUA, para começar o meu Ph.D.. O foco principal de meus estudos foi a História da Filosofia Moderna, especialmente durante o Iluminismo do século XVIII, pois eu estava interessado em epistemologia e Pitt era a melhor universidade americana na área de epistemologia, lógica e filosofia da ciência naquela época. Eu, naturalmente, ainda mantinha (como mantenho até hoje) meu interesse na epistemologia da religião. Esses dois interesses, na epistemologia da ciência e da religião, fizeram-me gravitar para William W. Bartley, III, professor titular do Departamento de Filosofia, cuja obra publicada lidava com esses dois assuntos (em especial, The Retreat to Commitment, publicado, em primeira edição, em 1962).
Depois de estudar teologia por algum tempo em Harvard, Bill Bartley foi para a London School of Economics (LSE), em Londres, Inglaterra, para estudar com Karl Raymund Popper. Ele eventualmente se tornou o discípulo amado de Popper. Assim sendo, fui virtualmente constrangido a ler tudo que Popper tinha publicado, e mesmo alguns trabalhos então ainda inéditos (mas aos quais Bill Bartley tinha acesso e dos quais, depois, se tornou o editor, na versão impressa). Depois de um sério desentendimento, Popper e Bartley voltaram a manter relações de amizade e colaboração bastante estreitas, tendo Bill Bartley sido ungido para a invejada tarefa de gerenciar todo o legado intelectual de Popper (e, depois, também de Friedrich von Hayek). À vista disso creio que posso, por direito, considerar-me “neto intelectual” de Popper — com quem tive o privilégio de trocar algumas cartas em meados da década de 70. A morte prematura de Bill Bartley em 1990 (5 de Fevereiro) roubou-me um mentor e grande amigo e foi motivo de grande tristeza. A morte de Popper em 1994 também foi grandemente sentida – embora não tenha sido prematura (ele nasceu em 1902). (A relação entre Popper e Bartley é bem e corretamente descrita em um artigo interessante de Mariano Artigas “The Ethical Roots of Popper’s Epistemology”).
Sob a orientação firme de Bill Bartley concluí meu doutorado em tempo recorde, em Agosto de 1972, com uma tese de 615 páginas sobre David Hume. Por mim eu teria continuado polindo o que eu esperava fosse tornar minha obra prima, mas Bill não me deixou, virtualmente me obrigando a entregar a tese na forma em que se encontrava. Foi aprovada sem ressalvas.
Em Pitt também tive o privilégio de estudar com Wilfrid Sellars, que foi o membro sênior de minha Banca de Doutoramento. Na home page dedicada a ele na University of Chicago, Keith Lehrer (filósofo bem conhecido) diz que “Sellars [foi] um dos mais importantes filósofos do século, talvez de todos os séculos”. Ele era também um professor fabuloso. Meu primeiro curso com ele foi um Seminário sobre Metafísica e Epistemologia. Depois fiz seu famoso seminário sobre Kant. Os cursos eram tão bons que eu comecei a frequentar tudo que era curso que ele dava: até mesmo, como ouvinte, alguns cursos introdutórios em nível de graduação (sobre Empirismo Britânico e sobre Filosofia Analítica, por exemplo). A maior parte do que eu sei sobre Filosofia Analítica aprendi com ele. Outros bons professores que tive em Pitt foram Nicholas Rescher (Lógica e Epistemologia), Richard Gale (Metafísica, Filosofia do Tempo, Filosofia Analítica), Kurt Baier (Ética), Joseph Kemp (Empiristas Britânicos), e Marilyn Frye (Kant). Olhando para trás posso ver porque o Departamento de Filosofia de Pitt era considerado o melhor do país naqueles anos.
Depois de receber meu Ph.D. fui contratado para lecionar filosofia, primeiro pela California State University at Hayward, em Hayward, CA, EUA (1972-1973), e, no ano seguinte, pelo Pomona College, um dos “colleges” do complexo chamado Claremont Colleges, em Claremont, CA, EUA (1973-1974). Felizmente, naquela época as normas do politicamente correto ainda não imperavam no cenário acadêmico americano. (Peter Drucker foi professor, por muitos anos, da Claremont Graduate School, que era a divisão de Pós-Graduação dos Claremont Colleges).
Enquanto trabalhava em Pomona tive uma das experiências intelectuais mais excitantes de minha vida: ler Ayn Rand pela primeira vez. A experiência fez de mim uma pessoa diferente. Sou para sempre grato ao meu colega de Pomona, Charles J. King, que veio a ser presidente do Liberty Fund, por recomendar que eu lesse Atlas Shrugged (A Revolta de Atlas, em Português). Desde aquele momento, em 1973, Ayn Rand se tornou minha principal mentora intelectual, ética e política, embora meu relacionamento com ela nunca tenha tido o fervor quase-religioso daqueles para quem Objetivismo, mais do que uma filosofia, é um culto – quando encontrei Ayn Rand eu já tinha tido minha experiência religiosa há muito tempo. Mas Ayn Rand permanece até hoje como a influência mais forte e mais permanente sobre o meu pensamento metafísico, epistemológico, ético, político e até mesmo estético – vale dizer, do meu pensamento filosófico.
No todo passei sete anos nos Estados Unidos (Agosto de 1967 a Junho de 1974), sem voltar ao Brasil sequer uma vez. O clima político no Brasil durante esses anos foi tão inóspito que eu dificilmente teria me arrependido de ter passado todo esse tempo fora, ainda que esses anos não houvessem sido os mais frutíferos de minha vida, do ponto de vista intelectual.
Em Junho de 1974, com a intermediação de meu primo Anello Sanvido Filho (hoje vivendo em Calgary, Canadá), e do Rubem Alves (que morou em Campinas até o final de sua vida), retornei para o Brasil para lecionar na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), em Campinas, SP, onde fiquei, até o fim de 2006, dando aula (no Departamento de Filosofia e História da Educação da Faculdade de Educação) de Epistemologia, Filosofia Política e Filosofia da Educação (e, de vez em quando, de Tecnologia e Educação). Por uns tempos, na década de oitenta, envolvi-me com administração universitária e até mesmo com política acadêmica. Fui Diretor da Faculdade de Educação por oito anos (quatro dos quais como Diretor Associado), Presidente da Comissão de Orçamento por dois mandatos, Pró-Reitor para Assuntos Administrativos por dois anos, etc.
Enquanto na UNICAMP, e quando ocupava o cargo de Diretor da Faculdade de Educação (de 1980 a 1984), fiquei interessado no uso de computadores na educação (mais na aprendizagem do que no ensino, para dizer a verdade). Isto me levou, por volta de 1981, para um caminho intelectual paralelo que, eventualmente, acabou se tornando um grande interesse profissional: o uso das tecnologias de informação e comunicação como ferramenta que expande a capacidade de trabalho intelectual do homem, na educação, na saúde e no mundo dos negócios, e como constituidora de novos ambientes de aprendizagem, trabalho e lazer. Criei, na UNICAMP, in 1983, the Núcleo de Informática Aplicada à Educação (NIED), que dirigi até Abril de 1986. Ele existe até hoje. Já tem mais de 30 anos.
De Abril de 1986 até o Abril de 1990 fui emprestado, pela UNICAMP, ao Governo do Estado de São Paulo. De Abril 1986 até Março de 1987, fui Diretor do Centro de Informações Educacionais (CIE) da Secretaria de Estado da Educação. De Março de 1987 até o fim de 1988 fui Diretor do Centro de Informações de Saúde (CIS) da Secretaria de Estado da Saúde. Nessa posição travei contato com as pessoas que ocupavam posição equivalente na World Health Organization (WHO), de Genebra, Suíça, e na PanAmerican Health Organization (PAHO), de Washington, DC, EUA, às quais prestei consultoria em várias ocasiões desde 1988. Durante o ano de 1989 fui Diretor de Publicações da Secretaria de Estado da Saúde. De 1987 a 1989 fui também membro do Conselho Estadual de Informática (CONEI) do Estado de São Paulo.
No início de 1990 retornei à UNICAMP. Em 1992, através de autorização especial da Reitoria, fiz parte do seleto grupo (liderado pelo Prof. Dr. Maurício Prates de Campos Filho) que ajudou a criar o Curso de Pós-Graduação Profissional (Mestrado) em Gerenciamento de Sistemas de Informação na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP), também em Campinas, SP. Depois de estar o programa em pleno funcionamento, com várias dissertações defendidas, e tendo se esgotado o período para o qual minha colaboração havia sido autorizada, voltei para a UNICAMP em tempo integral.
No início da década de 80 tornei-me consultor da empresa People Computação, em Campinas, SP, uma escola de informática. De 1990 até 1994 aquela companhia licenciou várias franquias. No final de 1994, foi criada uma nova empresa, People Brasil Informática, que passou, mediante contrato, a franquiar a marca, a gerenciar a rede de franquias, e a dar suporte técnico e operacional a ela. Eu tornei-me sócio, e, eventualmente, único proprietário dessa companhia. Em Março de 1998 as duas companhias terminaram seu relacionamento e as franquias voltaram à companhia original. A People Computação foi posteriormente vendida para o Grupo Multi, capitaneado pela Wizard e de propriedade de Carlos Wizard Martins, que, posteriormente, vendeu o Grupo Multi para a multinacional Pearson.
Antes disso criei, em Junho de 1997, a PBR Informática, uma companhia especializada em consultoria da área de educação, tecnologia, mudanças e inovação, que desenvolveu, durante três anos, materiais instrucionais e de auto-aprendizado na área de informática para escolas e outras instituições envolvidas no treinamento em informática e no uso de ferramentas de informática na educação, e, depois, passou a prestar assessoria a escolas e consultoria a empresas, organizações não-governamentais e órgãos de governo nas áreas em que a tecnologia interfaceia com a educação. Essa empresa atuou no mercado, enquanto esteve ativa, com a marca fantasia Mindware – EduTec.Net.
Em 1998 comecei a me tornar parceiro da área da Educação da Microsoft Brasil, parceria essa que se estreitou através dos anos. A partir de 2003 me tornei, por indicação da subsidiária brasileira, membro do Comitê Assessor Internacional do Programa Partners in Learning da Corp — isto é, na matriz da Microsoft, em Redmond, WA, EUA, função que exerci por dez anos, até 2013. Em 2003 também me tornei Coordenador do Comitê Assessor do Programa aqui no Brasil, função que exerci enquanto durou o Comitê, que aqui no Brasil era chamado de Fórum de Líderes Educacionais. Partners in Learning veio a ser chamado “Parceiros na Aprendizagem” aqui no Brasil. A parceria com a Microsoft Brasil durou até 2013. Essa parceria foi fonte de enorme aprendizado, de múltiplos contatos extremamente interessantes, de um sem número de viagens internacionais, e de grande satisfação profissional e pessoal. Através dela fui a Taiwan, para atuar como Keynote Speaker do Education and Technology Forum, durante todos os anos, desde 2004 até 2008 (tendo ido duas vezes em 2007). Fiz grandes amizades dentro da Microsoft, dentre as quais destaco Márcia Teixeira, Adriana Pettengill, Carrie Chen, Greg Butler, Vincent Quah, Emílio Munaro. Exceto pelo Vincent, nenhum desses está mais na Microsoft. O Greg morreu em circunstâncias trágicas em 2014. Tive na Microsoft o privilégio de conhecer a minha amiga Ana Teresa Ralston, que depois de sua permanência na Microsoft, foi Diretora de Tecnologia Educacional da Abril Educação e hoje é uma das diretoras da UniÍtalo, uma universidade particular de São Paulo. Como disse, minha colaboração com a Microsoft (tanto no Brasil como no plano global)se encerrou em 2013. Durou basicamente 15 anos, no caso do Brasil, e 10 anos, no caso da Corp.
Em 1999 comecei, por indicação da Microsoft, a prestar consultoria ao Programa “Sua Escola a 2000 por Hora”, do Instituto Ayrton Senna (IAS), programa esse então totalmente financiado pela Microsoft Brasil. Meu trabalho se concentrou, por um bom tempo, apenas nesse programa, hoje rebatizado de “Escola Conectada”. Depois me envolvi também no Programa “Comunidade Conectada”, também financiado pela Microsoft, voltado para parceria com TeleCentros. Eventualmente fui solicitado, em 2002, a elaborar um projeto de Cátedra UNESCO dentro do Instituto, e desse projeto resultou a Cátedra UNESCO de Educação e Desenvolvimento Humano no Instituto Ayrton Senna, que coordenei, desde sua implantação, em 2003, até minha saída do Instituto, em Dezembro de 2006, e, depois, nos três anos de minha volta ao IAS, de 2011 a 2013. Trabalhar com essa nobre instituição me foi uma fonte de enorme prazer e constante aprendizado. Fiz grandes amigos ali dentro. A mais chegada é Adriana Martinelli Carvalho, que coordenava a área de Educação e Tecnologia – mas que não está mais lá. Kátia Ramos e Simone Menella também são grandes amigas. A Simone continua lá, mas a Kátia, não. Viviane Senna é, naturalmente, uma fonte constante de inspiração.
No final de 2006 me aposentei da UNICAMP e assumi, a partir de Janeiro de 2007, o cargo de Secretário Adjunto de Ensino Superior do Estado de São Paulo, a convite do Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti, que havia sido meu colega na UNICAMP desde 1974, que era na ocasião Deputado Federal, e que acabava de ser escolhido pelo então Governador José Serra para ser o Secretário – e que, acima de tudo, era meu amigo pessoal. A passagem por essa secretaria, criada no governo Serra, foi curta, para mim e para o Pinotti. Não ficamos ali mais de um semestre. Pinotti, que era afiliado ao DEM, não resistiu à pressão que a esquerda exerceu sobre Serra para remove-lo do cargo. Parte da pressão teve de ver com o fato de que eu, em meu blog “Liberal Space” (http://liberal.space) havia feito, enquanto Fernando Henrique Cardoso era presidente, severas críticas a ele, ao Paulo Renato Souza, seu Ministro da Educação, e ao próprio Serra, seu Ministro do Planejamento, bem como ao PSDB. Serra, Paulo Renato, o Pinotti e eu éramos todos colegas na UNICAMP. A origem de nossos “entreveros” (se é que posso chamar assim as nossas brigas) é narrada no artigo “Minha Gestão na Direção da Faculdade de Educação da UNICAMP (1980-1984)”, que foi originalmente publicado no meu blog “Liberal Space” e, agora, está republicada aqui neste blog, logo depois deste artigo.
Ao sair do governo assumi, a convite do empresário Ricardo Semler, a Presidência do Instituto Lumiar, em São Paulo. O Instituto Lumiar é responsável pelas Escolas Lumiar. Fiquei nessa posição por dois anos. Vide o resultado do trabalho realizado no blog “Nova Educação” (http://novaeducacao.com). O trabalho contou com a imprescindível e inestimável colaboração de Paloma Epprecht e Machado (hoje Paloma Epprecht e Machado de Campos Chaves), que é, desde 2008, minha mulher (vide logo adiante).
Depois do Instituto Lumiar trabalhei em consultorias de longo prazo com a Fundação Bradesco, a Secretaria Municipal da Educação de São Paulo, a LegoZoom (representante no Brasil da Lego Education), a Lego Foundation, o Instituto Embraer, o Instituto MindGroup (pertencente à MindLab), a Confederação Nacional das Indústrias (no projeto Educação Livre, administrado pelo Escritório da UNESCO no Brasil), etc.
Atrás falei na Paloma mais de uma vez. Embora o tenha feito num contexto profissional, deixei claro que ela passou fazer parte de minha vida pessoal também.
Conheci a Paloma em Agosto de 2004. Quatro anos depois, em Setembro de 2008, passamos a viver juntos. Seis meses depois, em Março de 2009 oficializamos nosso relacionamento com um contrato particular de união estável, necessário porque meu divórcio, depois de 34 anos de casado, se tornou, infelizmente, um prolongado caso judicial. No final de 2011, quando a sentença de divórcio, totalmente favorável a mim, foi prolatada e havia transitado em julgado, transformamos o contrato em escritura pública de união estável, registrada em cartório — e começamos a planejar nosso casamento formal. Para simplificar as coisas, optamos por converter a união estável em casamento civil em 15 de Maio de 2012 (dia do aniversário da Paloma). Menos de dois meses depois, em 3 de Julho de 2012, dia do casamento dos meus pais e de minha filha mais velha, obtivemos consagração religiosa de nosso casamento, na Catedral Evangélica de São Paulo (Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo), sendo oficiantes os Revs. Elizeu Rodrigues Cremm e Valdinei Aparecido Ferreira. Éramos e continuamos a ser membros dessa igreja desde 28 de Novembro de 2010, tendo sido, ambos, arrolados por jurisdição, a pedido.
Como disse, demoramos para transformar nossa união estável em casamento civil porque precisei recorrer à Justiça para oficializar minha separação, sendo o processo apenas decidido quando, removidos pela nova legislação sobre o divórcio os últimos obstáculos, a sentença judicial veio rápido, fácil e nos termos em que eu havia feito o pedido – favorável a mim, portanto.
A Paloma, além de mulher, amiga e companheira, é parceira no trabalho, pois atuamos, profissionalmente, exatamente na mesma área. Foi assim que nos conhecemos, em 2004, no Congresso TecEduc@tion. Trabalhamos juntos em projetos da Microsoft (Parceiros na Aprendizagem, Aprender em Parceria), em 2005 e 2006. Em 2007, quando assumi a Presidência do Instituto Lumiar, convidei-a a vir trabalhar como Coordenadora Pedagógica do Instituto — convite que ela pode aceitar apenas a partir de Janeiro de 2008, posto que trabalhava na Secretaria da Educação do Município de São Bernardo do Campo. Ficamos no Instituto Lumiar até quase o final do primeiro semestre de 2009 e fizemos um trabalho que reputo extremamente importante. Boa parte dele está transcrito no blog “Nova Educação”, mencionado atrás. Depois disso a Paloma, como eu, passou a atuar como Consultora Independente no mercado, na área de Educação (currículo, metodologia, avaliação) e Tecnologia. Já prestou serviços de consultoria nessa área para a Microsoft, o Instituto Crescer para a Cidadania, o Instituto Paramitas, o CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), a Fundação Bradesco, a Abril Educação, o Programa Um Computador por Aluno (UCA), neste caso junto à Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP), etc. Ela trabalha atualmente (a partir de Agosto de 2011) no Colégio Visconde de Porto Seguro, Unidade Morumbi, em São Paulo e orgulhosamente é uma “Google Certified Educator”, posição que fez com que se envolvesse como consultora da UniÍtalo, recentemente. Enquanto trabalhava, a Paloma cursou brilhantemente o Mestrado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), na área de Currículo, tendo tido o privilégio de ser orientanda do meu amigo (de cerca de 35 anos) e sempre brilhante e instigante Prof. Dr. Fernando José de Almeida. Ela defendeu em Agosto de 2012 sua dissertação, com o título “A Avaliação de Competências no Ensino Fundamental: A Experiência da Escola Lumiar”. O trabalho pode ser consultado e mesmo baixado (vale a pena, garanto) a partir do site da PUC-SP, no seguinte endereço:
http://www.sapientia.pucsp.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=14801.
A Paloma e eu já demos palestras juntos (até no exterior), escrevemos juntos alguns artigos, e planejamos escrever mais. Um livro, sobre redes sociais e educação, está basicamente pronto. Estamos deliberando, no momento, se o publicamos de forma impressa ou na Amazon, através do Kindle.
A Paloma tem duas filhas adolescentes lindas, a Bianca (1996) e a Priscilla (1998), que moram, metade do tempo, conosco. Inicialmente elas viveram em sistema de “guarda compartilhada”, mas agora, com a idade que têm, já se tornaram oficialmente donas dos próprios narizes. Não gosto muito do termo “enteado/a”, porque considero como filhos aqueles a quem, de alguma forma estendida e sustentável, ajudo (ou ajudei) a se desenvolver como pessoas, profissionais, cidadãos e principalmente aprendentes permanentes. Mas, para evitar confusão, vou usar o termo aqui. A Bianca e a Priscilla são, portanto, minhas filhas/enteadas mais novas.
Filhos meus, mesmo, tenho duas mulheres, de dois casamentos anteriores: Andrea (1973) e Patrícia (1975).
Andrea é filha de meu primeiro casamento, realizado nos Estados Unidos, em 1967, com Maria Luiza Pinto de Oliveira (hoje Maria Luiza Kuszmaul), originalmente de Campinas e hoje de Champion, OH, EUA. Esse casamento terminou quando retornei ao Brasil em 1974. Depois de brevíssimo interregno no Brasil, a Andrea continuou vivendo nos Estados Unidos, inicialmente com a mãe, depois no Grove City College, depois, como casada e, mais recentemente, como “descasada”. Está lá até hoje.
Patrícia (1975) é filha de meu segundo casamento (que aconteceu em Campinas, SP, algum tempo depois de eu retornar dos Estados Unidos, em 1974), com Sueli Antonia Atibaia, de Campinas. O término desse casamento em 2008 me envolveu no processo judicial de separação já mencionado. Com minha separação da mãe dela, meu relacionamento com a Patrícia teve baixos e médios – nunca mais ficou a mesma coisa (que dizer, que nunca teve “altos”). No momento (Novembro 2015) está em um de seus piores e mais longos “baixos” – que já dura por bem mais de dois anos. Ninguém disse que a vida é fácil nem que a gente consegue ser feliz sem pagar um preço.
De meu segundo casamento tenho, também, dois filhos/enteados: Tatiana (1969) e Rodrigo (1971). Participei de seu desenvolvimento desde 1974, quando ainda eram pequeninos (o Rodrigo tinha 3 e a Tatiana 5 anos, quando vieram morar comigo). Desde minha separação da mãe deles, e apesar dos 34 anos em que convivi quase diariamente com eles, a convivência com eles, atualmente, é basicamente nula – mas, em termos relativos, é bem melhor com o Rodrigo do que com a Tatiana.
Netos já tive sete (mas um deles, Guilherme, primeiro filho da Patrícia, infelizmente, morreu uma semana depois de nascer: teria feito doze anos no dia 9 de Setembro deste ano (2015). Certamente conto como netos também os filhos dos filhos/enteados. São esses os seus nomes e seus anos de nascimento Gabriel (1999), Olívia (2002), Guilherme (2003), Gabriela (2004), Marcelo (2005), Madeline (2005) e Felipe (2006). Gabriel é filho da Tatiana; Olivia e Madeline, da Andrea; Guilherme e Marcelo, da Patrícia; e Gabriela e Felipe, do Rodrigo.
Se eu considero os enteados como filhos, com muito maior razão os netos. No entanto, com a separação litigiosa da Sueli ela acabou causando grande deterioração no meu relacionamento, não só com os filhos dela mas com a nossa filha, e também com os netos dela e o nosso, o Marcelo.
A Andrea, nascida em 1973, se formou em Marketing Internacional em Grove City College, em Grove City, PA, EUA, já mencionado. Foi, por algum tempo, Consultora Financeira dos produtos financeiros do American Express na região de Warren, OH, EUA., mas hoje administra um conjunto de imóveis de sua propriedade. Casou-se em 1998 e se separou no início deste ano (2015), depois de quase 17 anos. Ela vive com as filhas em Cortland, OH, EUA.
A Patrícia, nascida em 1975, formou-se (em 1999) em Odontologia na Universidade São Francisco (USF), em Bragança Paulista, SP, e é, hoje, Especialista na Área de Periodontia e Dentística Restauradora. Exerce a odontologia em Valinhos, SP (tanto quanto eu saiba). Começou a fazer o Mestrado na Faculdade de Medicina da UNICAMP, na área de moléstias sexualmente transmissíveis, mas interrompeu o curso. Casou-se em 2003, mas separou-se em 2012.
A Tatiana, nascida em 1969, é engenheira civil, formada pela PUCCAMP, mas trabalha, hoje, como funcionária pública no judiciário paulista, em Campinas. Ela se casou, em 1997, com Alexandre Montgomery Wild, promotor público em Campinas, onde moram.
O Rodrigo, nascido em 1971, é engenheiro de computação pela UNICAMP (formado na primeira turma, a de 1990). Trabalha como contratado PJ de uma empresa da área de sistemas em Campinas. Em 2000, casou-se com Adriana Tavares, fisioterapeuta formada (em 1999) pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), Piracicaba, SP. Eles moram em Campinas, SP, num bonito sítio na área de Barão Geraldo, de propriedade dos pais da Adriana.
A Bianca, nascida em 1996, terminou em 2013 o Ensino Médio, no Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo, SP, onde a Paloma trabalha atualmente. No primeiro semestre de 2014 ela meio que tirou uma folga para estudar um número de coisas em que tinha interesse e a que a intensidade dos trabalhos da escolaridade formal a impediram de se dedicar. No segundo semestre de 2014 começou a cursar Gestão Ambiental na FMU, em São Paulo.
A Priscilla, nascida em 1998, conclui este ano (2015) o Ensino Médio também no Colégio Visconde de Porto Seguro. Estará prestando vestibular para Biomedicina — mas tem interesses os mais variados (que incluem o Teatro, o Jornalismo e o Direito). Não sei se Biomedicina será sua escolha definitiva… Tem um dom especial para línguas, tendo obtido os cobiçados certificados de Alemão, Inglês e Espanhol do Colégio Visconde de Porto Seguro.
Meus netos são todos estudantes, como seria de esperar, pela idade.
Meus pais são falecidos: meu pai, o Rev. Oscar Chaves, em 5 de Março de 1991, em Campinas, minha mãe, Edith de Campos Chaves, em 11 de Junho de 2008, em Santo André. Como já disse, tenho um irmão e duas irmãs, que moram, todos, em Santo André, SP: o Flávio, a Priscila e a Eliane, a caçula. O Flávio é casado com a Inês e tem dois filhos: Flávio Júnior (Flavinho) e César. O Flavinho é casado com a Aninha e eles não têm filhos. O César é casado com a Juliana e eles têm dois filhos, chamado (também) Gabriel e Lucas, que são, portanto, netos do Flávio e da Inês. O Flavinho, formado em Farmácia pela USP, mora e trabalha em São José do Rio Preto, SP. O César, formado em Administração de Empresas pela FGV, está estudando (MBA) nos Estados Unidos atualmente. A Eliane é casada com o João e eles também têm dois filhos: Vítor e Diogo. Ambos são solteiros, trabalham atualmente na empresa da família, e moram com os pais em Santo André. Minha irmã Priscila é solteira e funcionária pública do Judiciário.
Os pais da Paloma, José de Oliveira Machado Neto (o “Machadinho”) e Ana Maria Epprecht Machado, estão vivos e moram em Ubatuba, SP. Conheci o pai da Paloma no final da década de 50, início da década de 60, na Igreja Presbiteriana do Parque das Nações, em Santo André, que sua família frequentava e da qual meu pai era pastor. Sua mãe era organista e regente do coral da igreja. Essa é uma das coincidências fantásticas de minha vida com a Paloma. (Outras duas: dois tios dela, um de primeiro grau e o outro de segundo, eram amigos meus de adolescência e juventude, na mesma igreja que o pai dela frequentava – e foi meu pai que fez o casamento deles, muito tempo atrás).
A Paloma tem dois irmãos: a Ana Patrícia, mais velha do que ela, e o Rafael, mais novo do que ela. A Ana Patrícia mora em Guarulhos, é casada com o Fábio, e tem três filhos: Aline, Everton e Júlia. A Aline já é casada (com o Alexandre, apelidado carinhosamente de Japa), e eles têm um encanto de filhinha, a Milena (a japinha mais linda que eu conheço). O Rafael é casado com a Carolina (Carol) e mora em São Paulo. Eles não têm filhos.
Pela intermediação da Paloma restabeleci os laços que havia perdido com a igreja e a religião. Frequentamos, desde que estamos juntos, a Catedral Evangélica de São Paulo (também conhecida como Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo), na Rua Nestor Pestana, no Centro. Tornamo-nos oficialmente membros da igreja em Outubro de 2010. Facilita muito esse processo o fato de ter frequentado essa igreja no passado, ter ali vários amigos, em especial o Rev. Elizeu Rodrigues Cremm e sua mulher, Marli, que foram meus colegas no Instituto JMC nos idos de 1961-1963. O Elizeu é um dos pastores da igreja (hoje jubilado e morando em Tatuí). Este ano (2015) faz nada menos do que 54 anos que o Elizeu, a Marli e eu somos amigos — em poucos meses fará 55 anos. Apesar do longo interlúdio fora da igreja, sinto-me totalmente em casa na Catedral — até porque ela mantém um hinário que contém todos os meus hinos mais queridos (que minha amiga, também do JMC, a Maestrina Dorothéa Machado Kerr, filha de meu ex-professor, Rev. Joaquim Machado, gravou com o Coral Evangélico de São Paulo, em inúmeros CDs).
Continuo a ter muitas dúvidas em teologia e para a maioria das questões da religião não encontrei respostas convincentes ou totalmente convincentes. Mas voltei a achar as questões fascinantes, como um dia as havia achado – e tenho progredido um pouco no sentido de equaciona-las. Foi por isso que voltei a dar atenção ao estudo da Teologia — em especial da História da Doutrina. Os escritos de C. S. Lewis, que li quando estava no Seminário de Campinas, voltaram a me ajudar e a me inspirar. E continuo a gostar, como sempre gostei, de Rudolf Bultmann, para mim o maior teólogo do século 20 e meu teólogo favorito. Os problemas passados com a instituição eclesiástica acabaram por me levar a afastar essas questões de meu foco de interesse por muito tempo. Felizmente, estou, aos poucos, com o apoio e o incentivo da Paloma, fazendo as pazes com o meu passado. O fato de meu sobrinho Vitor, sobrinho de minha irmã Eliane, haver decidido se tornar teólogo também me motivou. Ele defendeu seu Mestrado em 2011 e seu Doutorado em 2015 na área de Ciências da Religião no Programa de Pós-Graduação da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Já tem vários livros publicados, nessa área e em outras. Morro de orgulho dele.
E há outro desenvolvimento até certo ponto irônico. Numa virada inesperada e totalmente não planejada, fui convidado a ser Professor de Teologia, na Área de História da Igreja e da Doutrina Cristã na Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana do Brasil (FATIPI) em 2014. O convite foi feito pelo seu diretor, Rev. Reginaldo von Zuben, que também é pastor da Catedral. A partir desse momento comecei a manter vários blogs na área teológica, propriamente dita, como “Theological Space” (http://theological.space), e na de História da Igreja, como “Church History Space” (http://churchhistory.space). Também me enveredei a pesquisar a questão da “Igreja Virtual” (http://ecclesiavirtualis.com).
Todos os meus blogs podem ser acessados a partir de meu “metablog”, “Chaves Space” (http://chaves.space). Esse meu conjunto de blogs me é muito importante. Eles comportam, atualmente, em seu conjunto, mais de 1.200 artigos meus e ocupam boa parte de meu tempo — que, entretanto, é dividido também com meu perfil e minha “fan page” no Facebook, localizados, respectivamente, em http://facebook.com/eduardo.chaves e http://facebook.com/educhv. Convido os eventuais leitores deste resumo autobiográfico a consultar tanto os blogs como meu perfil e minha “fan page” no Facebook.
Detalhes sobre a vida da gente normalmente só interessam a gente mesmo. Se, a despeito disso, você chegou até o fim desta longa página, receba meus parabéns pela paciência e os meus agradecimentos. Poucos são os que chegarão até aqui. Se quiser me contatar, use o e-mail eduardo@chaves.pro.
Revisto, expandido e inserido aqui em São Paulo, 6 de Novembro de 2015.