Já lá se vão 47 anos. . . (Hoje, 52. . .)

Em 1967, quarenta e sete anos atrás, neste dia, então um sábado, eu estava, nesta hora (cerca de 19h) no Aeroporto de Viracopos, em Campinas, acompanhado de minha mãe, de minha tia, e de minhas irmãs, para viajar para os Estados Unidos, onde iria fazer o Mestrado, no  Pittburgh Theological Seminary (http://pts.edu), em Pittsburgh (http://pittsburghpa.gov/), no oeste do estado da Pensilvânia, já quase no estado de Ohio (onde minha filha mais velha mora hoje — de Pittsburgh até a casa dela, em Cortland, são, eu diria, cerca de 100 km, se tanto). Meu pai não foi ao aeroporto — estava sem conversar comigo. Meu irmão creio que não foi — não sei por que razão.

Na época eu estava a menos de três semanas de completar 24 anos (como estou, hoje, de completar 71). Vocês podem conferir a minha foto daquele ano, de um mês antes, por aí, que tirei para o passaporte — o meu primeiro. Estava contente, mas ansioso. O meu Inglês era bastante bom (tinha começado a aprender cedo, havia tido, no Instituto JMC, onde éramos internos, uma namorada que falava Inglês nativo, pois era filha de missionários, e havia completado o curso da União Cultural Brasil-Estados Unidos em Campinas). Mas nunca havia ido aos Estados Unidos e tinha grande expectactiva sobre como iria me sair entre os nativos do país. Depois de uns dias iniciais meio traumáticos, saí-me bem.

Os mais novos vão ficar surpresos de que eu estivesse saindo de Viracopos. Mas a explicação é simples. Naquela época o Aeroporto Internacional de Guarulhos ainda não existia. O Maluf ainda não havia sido nem prefeito nem governador de São Paulo… Cumbica era apenas uma base militar. E o Aeroporto de Congonhas não comportava aviões do porte de um Boeing 707, que eu iria tomar. Voei com a então tradicional PanAmerican World AirWays (PanAm), que, quando fechou, vendeu para a United as suas rotas latinoamericanas. O vôo, se bem me lembro, era PA 202, originado em Montevideo e que chegava a Campinas depois de uma escala em Buenos Aires. O vôo PA 201 fazia a direção contrária, a partir de Nova York. Fizemos uma escala no Rio, no Aeroporto do Galeão (que era um Aeroporto Internacional, além de uma base militar). Do Rio fui direto para Nova York, nonstop, desembarcando no dia seguinte no Aeroporto John Fitzgerald Kennedy (JFK). Este aeroporto havia sido inaugurado em Julho de 1948, com o nome de Idlewild Airport, mas, depois da morte do Presidente Kennedy, em 22 de Novembro de 1963, foi rebatizado em sua honra, na véspera do Natal daquele ano. Do JFK peguei um vôo para Pittsburgh (não me lembro nem da companhia nem do número do vôo, infelizmente), onde me esperava uma família, os Eichleays, com quem iria ficar por uma semana, antes de começarem as aulas.

A estada com os Eichleays (ele se chamava William, do nome da mulher e da filha me esqueço) foi gentileza de uma instituição fantástica, o Pittsburgh Council for International Visitors (PCIV), uma ONG criada para recepcionar e apoiar estrangeiros (visitantes internacionais, no “politicamente correto” de então) que chegassem à cidade. O PCIV era informado pelas universidades e faculdades da cidade quando estudantes ou professores estrangeiros iam chegar à cidade, ou pelas empresas quando os visitantes eram empresários ou seus empregados. Eles então contatavam as pessoas e indagavam, no caso de estudantes, se queriam ficar, por uma semana, com uma família que, voluntariamente, sem receber nada por isso, se dispunha a hospedar o visitante e “aclimata-lo” na cidade. Eu, naturalmente, aceitei. Minhas aulas só iriam começar depois do Dia do Trabalho americano, comemorado na primeira segunda-feira de Setembro. Assim, me dispus a ser hóspede dos Eichleays de 20, domingo, dia de minha chegada, a 27 de Agosto — o domingo seguinte.

Já de início, naquele domingo, levaram-me para um restaurante muito chique. Nunca tinha ido a um restaurante tão bacana. Comi sirloin steak, com legumes. Achei delicioso. Tomei, de aperitivo, dois martinis. Foi a primeira vez que experimentei esse drinque americano. Depois do segundo, senti o efeito e fiquei meio zonzo. Tive um pouco de medo de que eles notassem isso. Mas se notaram, foram delicados o suficiente para não me deixar perceber. Com a comida, o impacto passou. De sobremesa, experimentei (também pela primeira vez) cheese cake. Achei delicioso.

Depois do almoço, deram-me uma tournée da cidade, que achei linda. Pittsburgh é cortada por dois rios, o Allegheny e o Monangahela, que se unem, no centro da cidade, para formar o rio Ohio. A cidade era conhecida, nos anos 30, como “Dust City” (Cidade da Poeira), por causa da poluição causada pelas inúmeras indústrias que tinham sede na cidade, em especial várias indústrias do aço, das quais a US Steel, criada por Andrew Carneggie, o homem mais rico do mundo na passagem do século 19 para o 20, era a principal. Pittsburgh era sede de várias universidades, das quais as principais eram a University of Pittburgh – Pitt (vide http://pitt.edu), a Carneggie-Mellon University (vide http://cmu.edu), tecnológica, que, quando cheguei lá, era chamada de Carneggie Institute of Technology, e a Duquesne University (http://duq.edu),  católica. Era sede de três times esportivos profissionais: os Pittsburgh Steelers, de futebol americano (http://www.steelers.com/), os Pittsburgh Pirates, de beisebol (http://pirates.com), e os Pittsburgh Penguins, de hóquei sobre o gelo (http://penguins.nhl.com/). Os Steelers nunca haviam ganho um superbowl. Desde então ganharam seis, sendo o time que mais vezes foi campeão americano. Os Pirates haviam sido campeões mundiais (como eles chamam os campeões americanos) em 1960 e vieram a ser novamente em 1970, quando eu ainda estava lá. Os Penguins foram formados em 1967, e, portanto, não haviam ganho nada ainda quando cheguei lá, mas, depois, foram campeões nacionais três vezes, em 1991, 1992 e 2009. O time de futebol americano universitário da Pitt eram os Panthers, que era ruim quando eu estava lá, mas melhorou muito, sem, contudo, jamais chegar a ficar por muito tempo entre os melhores. A cidade tinha uma fantástica Orquestra Sinfônica (http://www.pittsburghsymphony.org/pso_home). O PCIV dava, semanalmente, bilhetes para jogos e concertos para os estrangeiros da cidade, numa base primeiro a chegar, leva. Como a sede do PCIV era dentro da Pitt, onde eu fiz o doutorado, de 1970 a 1972 eu aproveitei o fato para não perder muitos jogos. Infelizmente, não aproveitei igualmente os concertos.

Pittsburgh era também uma cidade famosa por suas faculdades de medicina e hospitais. O hospital mais famoso era o Presbyterian University Hospital, que faz parte do University of Pittsburgh Medical Centers como seu principal hospital de clínicas. Ele fica ao lado do estádio dos Panthers, dentro do campus.

O campus tinha dois prédios célebres. A Cathedral of Learning (Catedral da Aprendizagem), de 38 andares, no centro do campus, que era, naturalmente, uma catedral secular (http://www.nationalityrooms.pitt.edu/about/cathedral-learning), e a Heinz Memorial Chapel (http://www.heinzchapel.pitt.edu/), que funcionava como a igreja não-denominacional do campus, tendo sido construída com recursos doados pelo famoso industrial H. J. Heinz (fabricante de ketchup e mostarda). A empresa dele (vide http://en.wikipedia.org/wiki/H._J._Heinz_Company) é hoje parte do império do suíço-brasileiro Jorge Paulo Lemann e seus sócios.

Enfim, é isso.

Fiquei em Pittsburgh cinco anos, de 20 de Agosto de 1967 até 20 de Agosto de 1972, quando me mudei para a California, onde arrumei um emprego em Hayward, na Baía de San Francisco.

Comemoro a data 19 de Agosto todo ano e sou grato a todos os que viabilizaram a oportunidade que tive de estudar nos Estados Unidos. Foi um privilégio. Cito, em especial, o Rev. Gordon E. Jackson, Deão do Seminário Presbiteriano de Pittsburgh, que me convidou para ir para lá e me deu a bolsa que me permitiu ficar lá durante cinco anos, e o Rev. Aharon Sapsezian, então Secretário Executivo da Associação de Seminários Teológicos Evangélicos (ASTE), aqui de São Paulo, que em 1967 me deu a passagem para ir e voltar. O Aharon virou, em 1987, um de meus mais diletos amigos. Ele faleceu recentemente. Com o Rev. Jackson perdi contato, mas imagino que já tenha falecido.

Transcrito em meu blog “Liberal Space” em São Paulo, 19 de Agosto de 2014.

Transcrito aqui neste blog em 9 de Novembro de 2015.

Levemente revisado em 16 de Dezembro de 2019.

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